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sábado, 5 de maio de 2007

País Tropical

Em sua brilhante coluna, o economista Paulo Rabello de Castro fala sobre a questão da taxa de juros
A ECONOMIA BRASILEIRA vive um momento de paraíso tropical. Como em qualquer paraíso, ganha-se muito para se trabalhar pouco, sendo a muitos permitido não fazer nada para conseguir um ócio remunerado.

Como é que a economia brasileira entrou no paraíso? Supereficiência da gestão pública? Ou um avanço fenomenal da produtividade privada? No caso, a sorte e a bonança vêm de fora, por meio de uma seqüência ininterrupta de gratuidades, desde o extraordinário crescimento da economia mundial até a valorização de nossas principais commodities de exportação. O avanço de preço nos nossos produtos, principalmente os minerais exportáveis, foi espetacular (mais de 100% sobre a média histórica).
Os países que insistem em trabalhar no resto do mundo querem nossas matérias-primas, alimentos e agroenergéticos para tocar uma imensa máquina produtiva industrial na Ásia e nos outros lugares que chamamos, despeitadamente, de infernos industriais poluidores do planeta.
Os produtos lá fabricados vêm bater no mercado brasileiro, oferecidos a preços cadentes e favorecidos pelo nosso câmbio, que encarece a alternativa do produto nacional. Não é pequeno o desafio do empresário que insiste em querer produzir no paraíso tropical.
No jardim do Éden bíblico não se tem notícia da prática da usura, nem mesmo da cobrança de juros. Mas, no jardim tropical brasileiro, a propensão ao trabalho é explicitamente combatida com juros punitivos.
A política monetária conduzida pelo Banco Central atrai as divisas estrangeiras ao manter um diferencial permanente de remuneração, favorecendo as aplicações na moeda brasileira. Por essa razão, desde o advento da flutuação cambial, no início do ano de 1999, a taxa de juros interna esteve acima do ponto que seria justificável pelo juro externo mais o risco-país do Brasil. Tal diferença de juros acumulou, desde 2003, um ganho de 48% sobre cada real aplicado.

A contraposição da ética do trabalho com a ética aventureira. A farra de juros, a farra cambial uma forma de enriquecer poucos no paraíso tropical em que o ganho fácil é favorecido por algumas vantagens do Estado.



Continua
A ascensão ao governo de dois colunistas desta Folha -Luciano Coutinho, para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e Roberto Mangabeira Unger, para a nova Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo -,ambos de excepcional estatura intelectual e atentos, de longa data, aos efeitos entorpecentes do câmbio artificial, poderá contribuir como um alerta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a premente necessidade de mais equilíbrio nas escolhas entre as delícias do paraíso tropical e a ética do trabalho made in Brasil.

O cenário é diferente da época do Plano Real. Nosso câmbio está se valorizando, continuamos exportando bem, há superávits em transações correntes, há superávits na balança comercial, recordes de investimento externo direto, estamos sustentando uma inflação baixa e perdendo a oportunidade de reduzir a taxa de juros e fazer uma política de desenvolvimento. Trava-se a possibilidade de expandir a massa de salários porque o emprego não cresce como poderia e trava-se a possibilidade de se efetuar investimentos de longo prazo.

Até quando o Estado agirá dessa forma? Ganhar dinheiro eu também quero! hehe.

Se nós queremos que uma sociedade que inclua e eleve o nível de geração de empregos, essa política de taxa de juros e de câmbio está completamente equivocada.

A quem interessa o câmbio apreciado? Uma economia cuja o principal objetivo seja a atração de recursos externos, resolver o problema fiscal cortando gastos, fazer a inflação cair tentando reduzir a dívida pública através de superávits primários. Resolver o problema da solvência do Estado não por meio de crescimento econômico.

Porra, o que esta Economia está esperando pra crescer de forma vigorosa? Temos problema de infra-estrutura, mão-de-obra ociosa, massa de poupança esterilizada, mercado interno potencial... oras oras. O presidente precisa se livrar de algumas entidades que dizem que temos de ter uma inflação de países subdesenvolvidos.

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